DPOC: "A reabilitação respiratória deve ser prontamente implementada"

Pedro Fonte
09/12/24
DPOC: "A reabilitação respiratória deve ser prontamente implementada"

Pedro Fonte, médico na Unidade de Saúde Familiar do Minho e na Unidade Local de Saúde de Braga, é membro do grupo de estudos de doenças respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, focando-se na doença pulmonar obstrutiva crónica. Como tal, redige um artigo de opinião sobre a prevalência em Portugal, outros fatores de risco que não o tabagismo e as opções terapêuticas que ajudam na melhoria da qualidade de vida destes doentes. Leia o artigo. 

"Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é “uma doença pulmonar comum que causa limitações no fluxo aéreo e problemas respiratórios”. Segundo a iniciativa GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease), DPOC define-se como “uma doença pulmonar heterogênea, caracterizada por sintomas respiratórios crónicos, devido a alterações das vias aéreas e/ou alvéolos, o que causa obstrução persistente, geralmente progressiva, do fluxo aéreo”. 

As pessoas que têm DPOC apresentam alguns sintomas típicos que, porém, não são exclusivos desta doença. A tosse é crónica e com expetoração; a dispneia tipicamente progressiva, com agravamento ao longo do tempo; a fadiga surge com esforços progressivamente menores; a pieira pode estar também presente em algumas circunstâncias.

Embora o tabagismo seja apontado como o principal fator de risco, é cada vez mais reconhecido que vários outros fatores contribuem para a doença. A nível ocupacional, deve-se considerar a exposição a poeiras, gases e fumos. Por sua vez, em algumas regiões, a exposição doméstica à combustão de biomassa pode também ser relevante. Adicionalmente, condições próprias do hospedeiro podem predispor ao desenvolvimento desta doença. 

A DPOC é uma causa importante de morbilidade e mortalidade em todo o mundo. Atualmente, é responsável por cerca de três milhões de mortes por ano. Em Portugal, o estudo BOLD (Burden of Obstructive Lung Disease), realizado na zona metropolitana de Lisboa, estimou uma prevalência de 14,2 % na população a partir dos 40 anos. Apesar desta estimativa, um importante problema continua a ser o reconhecimento e diagnóstico insuficientes da DPOC. Em Portugal, o estudo BOLD estimou a existência de cerca de 86 % de subdiagnóstico na região de Lisboa. Em março de 2024, considerando os casos registados nas unidades de Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal continental, verificava-se uma prevalência de 2,37 %.

Além do problema do subdiagnóstico, também o diagnóstico incorreto está várias vezes relacionado com a DPOC. Vários estudos demonstram que, a nível dos CSP, muitos diagnósticos da doença têm sido feitos na ausência de confirmação espirométrica, o que, por si só, inviabiliza o diagnóstico. Novamente, o estudo BOLD encontrou 61% de casos previamente diagnosticados como DPOC que não foram confirmados por espirometria. Em Portugal, segundo dados de um relatório nacional de 2017, apenas cerca de um terço destes diagnósticos se fazia acompanhar do registo deste exame. Esta é, portanto, uma situação que urge corrigir já que, apenas deste modo, é possível orientar adequadamente estes doentes. Além disso, acredita-se que um diagnóstico mais precoce permite adotar medidas para travar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do doente.

Apesar de esta doença não ter atualmente cura, há várias intervenções terapêuticas que devem ser implementadas. A evicção de fatores de risco, nomeadamente o tabaco, é desde sempre considerada como uma medida que pode mesmo desacelerar a progressão da doença. Em termos farmacológicos, considera-se, por um lado, a terapia inalada (broncodilatadores e corticosteroides) e, por outro, várias vacinas que hoje em dia se recomenda para estas pessoas. Ainda, para situações mais complexas e selecionadas, poderá haver vantagem na introdução de fármacos orais. De forma muito relevante, a reabilitação respiratória deve ser prontamente implementada, pois trata-se de uma das intervenções com maior impacto na melhoria da qualidade de vida e funcionalidade destas pessoas. Além de tudo, em casos mais graves, podem ser considerados alguns procedimentos cirúrgicos pulmonares.  

Pode-se assim dizer que reconhecer, diagnosticar e tratar a DPOC atempadamente é essencial para travar a sua progressão e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Só através de uma abordagem multidisciplinar e do reforço da literacia em saúde será possível enfrentar este desafio de forma eficaz."

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